Entre os dias 20 e 24 de agosto uma delegação do projeto Rede de
Comunidades autogestionárias, acompanhada de um integrante do Bloco de
Lutas pelo Transporte Público, esteve em Bagé a convite da Universidade
Federal do Pampa (UNIPAMPA). Dentro de um ciclo de estudos sobre o
Anarquismo proposto pela Professora Maria Eloá Gehlen, a delegação
apresentou o projeto para aproximadamente 250 estudantes de diversos
cursos.
Com
um frio de lascar e a vontade de apresentarmos um projeto de uma nova
cidadania, estivemos em Bagé, na UNIPAMPA, entre 20 e 24 de agosto de
2013. Tomando como contexto a experiência do Assentamento Urbano Utopia e
Luta, apresentamos o projeto “Rede de comunidades autogestonárias", na
qual a moradia, o trabalho, o dia a dia, rompe com os mecanismos de
exploração. O bloco de lutas pelo transporte público se fez presente
narrando e avaliando as manifestações de rua que mobilizaram o país.
Um sotaque mais forte e as mesmas urgências. Assim, em Bagé, pudemos
conhecer jovens com as mesmas angustias que encontramos na capital:
desemprego, falta de moradia, opções culturais raras, racionamento de
água, uma barragem que não consegue sair do papel há vinte anos e um
movimento sendo criado sobre essa demanda.
Em atividade com os estudantes, primeiro declaramos que a rede
está fundamentada a partir de práticas libertarias, compondo uma
diversidade de orientações políticas e de pessoas que incluem diferentes
interpretações ideológicas. Afirmou-se que o objetivo da rede,
fundamentado em propostas concretas, é atender às necessidades básicas
dos coletivos cooperativados em torno do trabalho, utilizar recursos
públicos e devolvê-los à sociedade em forma de organização social,
valendo-se de territórios coletivos como base produtiva de novas
relações sociais, críticas ao capitalismo.
No dia 21, terça,
pela manhã, visitamos o quilombo de Palmas, a 80 Km de Bagé, onde
falamos com uma liderança, conhecemos seus projetos e falamos sobre a
rede. Identificamos algumas possíveis conexões da comunidade com outros
locais a partir do trabalho que vêm desenvolvendo.
Logo após, almoçamos com o secretário de habitação do município,
Antônio Augusto Nadal, e com o representante da Economia Solidária,
André Mombach (que falou sobre o Complexo de Empreendimentos KM 21),
para os quais expusemos o projeto da rede e alguns pontos de afinidade.
Depois, visitamos as instalações do complexo, onde conversamos sobre a
política de economia solidária no município. Na ocasião, os
representantes do complexo e a prefeitura expuseram as ações de formação
e como planejam os próximos passos.
À noite compareceram à UNIAMPA estudantes de diversos campi (Bagé e
Dom Pedrito, entre outros) para o segundo debate. A noite foi aberta com
uma capela de Nanci Araújo com a música “canto das três raças" de Paulo
César Pinheiro. Segundo Nanci, “o pensar que podemos deu a animação no
cantar”. A Rede e o Bloco foram apresentados para aproximadamente 110
estudantes, o maior público já registrado no auditório da universidade.
Nos dias seguintes, as atividades estiveram concentradas em debates
com estudantes de varias cidades do Brasil. A partir do referencial
Assentamento Utopia e Luta, sua ocupação, os desafios e estratégias, se
abre os debates sobre a Rede, buscando impulsionar novos projetos de
práticas autogestionárias. No mesmo dia, o “Direito a Cidade” ganhou a
atenção dos estudantes e professores. A contradição foi posta sobre a
formação das cidades a partir da economia capitalista. O lado menos
visibilizado da reorganização permanente do capital é a expulsão das
populações pobres das áreas centrais das cidades, a concentração e
transferência dos recursos públicos para o âmbito privado, assim como
outras privações, que são elementos que renovam permanentemente o
conflito urbano.
Utilizando-nos da metodologia da educação popular, questionamos e as
diferenças entre bairros ricos e pobres. Alguns elementos emergiram
deste debate compõem o quadro das manifestações públicas no país, tais
como a qualidade e agilidade dos serviços prestados; a concentração dos
equipamentos de cultura e lazer; segurança, saneamento básico,
mobilidade urbana presentes; insegurança falta de instrumentos públicos;
morosidade do poder publico em garantir direitos; infraestrutura
precária, saneamento básico.
Na sexta feira à noite visitamos o
Instituto de Permacultura da Pampa – IPEP, um referencial no Brasil em
tecnologias sustentáveis na ótica da ecologia. Durante a conversa com o
João Rocket, coordenador e gestor do IPEP, tivemos uma breve noção do
funcionamento das políticas na cidade de Bagé, assim como das
dificuldades encontradas em ampliar as práticas da permacultura em obras
publicas. Também foi apresentada de forma breve através de relatos a
experiência do Utopia e Luta, o projeto da Rede.
O sábado foi
nosso ultimo dia na cidade. Confraternizamos, em um almoço, com
estudantes afinados com as ideias de autogestão e autonomia.
Encaminhou-se uma visita das turmas ao Assentamento Urbano Utopia e
Luta, que se realizará em outubro deste ano.
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